Desporto Escolar
Boas! Este fim-de-semana estive a ver o Gil Vicente-Benfica, e não pude deixar de reparar no novo estádio de Barcelos. Pequeno, cómodo e pelos vistos funcional. O estádio tem apenas 12500 lugares, um número bastante aceitável.
Vendo isto, não posso deixar de me interrogar sobre a necessidade da realização do Euro2004 em Portugal. Era mesmo necessário construir dez estádios novos? Sim, a meu ver os estádios antigos apresentavam graves problemas que iam desde o conforto até à segurança, portanto a ideia não era de todo descabida. Agora, precisávamos mesmo do Euro? Precisávamos de fazer estádios que nunca enchem ou sequer atingem metade da lotação, como são os casos do Algarve, Coimbra, Leiria? Quanto dinheiro foi deitado à rua apenas para melhorarmos meia dúzia de infra-estruturas no nosso mono-desporto? Mesmo no caso dos chamados 3 grandes, seriam mesmo necessários estádios de tamanha dimensão que andam durante meses com meias-casas à excepção dos chamados jogos grandes? O Benfica construiu um estádio com 70000 lugares quando a sua lotação média não chega aos 35000. O Sporting possui um estádio com 50000 lugares, mas a sua lotação média também não atinge os 35000 mesmo considerando que foram vendidos sensivelmente 30000 bilhetes de época. Mantendo os mesmos preços de bilheteira, não faria mais sentido os 3 grandes possuírem estádios com 30000 ou 35000 lugares? A Juventus, um clube de dimensão superior, está a construir um estádio novo com uma lotação de apenas 35000. Objectivo: ter casa cheia em TODOS os jogos!!!
Reparem, eu acho que o governo deve apoiar a renovação das infra-estruturas desportivas, mas deve apoiar todas por igual e não apenas uns quantos clubes de futebol com ilusões de superioridade. Clubes que estiveram anos sem pagar ao fisco e que continuam a gastar aquilo que não têm. Não seria muito mais interessante o estado ter poupado alguns (bastantes) milhões e ter ajudado o Leiria a construir um estádio para 10000 pessoas, por exemplo? Talvez o Sporting merecesse ajuda para construir um estádio de 30000 lugares, mas se pretende fazer um de 50000, então a comparticipação estatal seria a mesma que para um estádio de menor dimensão.
Porque não pegar em algum dinheiro utilizado no Euro, ou mesmo a maioria desse dinheiro, e construir infra-estruturas nas escolas portuguesas ou em algo que realmente beneficiasse a sociedade? Mas já que a aposta é no desporto, então que se tomem medidas sérias. Se o desporto escolar puder ser encarado de forma mais séria, talvez se melhorem os resultados nos jogos olímpicos ou nos campeonatos do mundo de natação, atletismo ou de ginástica. Talvez a inserção no desporto escolar traga também benefícios a nível social, sobretudo ao nível da delinquência juvenil. Se os miúdos tiverem treinos depois das aulas, terão de certeza menos tempo para andar na rua a desperdiçar o seu tempo com o que podem ser “más companhias”. Não digo retirar a formação dos desportos colectivos de pavilhão aos clubes e passá-los para as escolas, à semelhança do que acontece no modelo americano, porque isso implicaria uma alteração de fundo e a criação de ainda mais infra-estruturas (mas de certeza que seria o segundo passo). Refiro-me apenas à ginástica, ao atletismo e à natação, numa primeira fase.
Nós até temos um clima minimamente aceitável, portanto as minhas sugestões são:
Obviamente, remodelar (ou construir onde não existe) os pavilhões das diversas escolas, de modo a que estas possam albergar todo o género de equipamento de ginástica e ainda um campo que permita receber jogos de basquetebol, andebol, voleibol e futsal (hóquei em patins está obviamente excluído dados os custos inerentes ao equipamento e à pouca compatibilidade entre os pisos ideais para os outros desportos e os mais adequados ao hóquei). O campo pode também ser alugado nas horas vagas para uma ajuda em receitas.
Construir uma piscina de 25 metros em cada localidade de dimensão assinalável que possa ser usada durante a semana para os treinos dos atletas/alunos das escolas abrangidas e que possa ser alugada ao fim de semana ou nos horários livres. Claro que a exploração seria das escolas, permitindo a estas obter uma receita extra que pelos vistos bem precisariam. No caso dos grandes centros urbanos o problema é mais complicado, mas penso que uma piscina por freguesia resolveria o problema, partilhando as escolas da freguesia a utilização da piscina. As freguesias que possuem uma dimensão exagerada (Olivais, Benfica, Marvila…) poderiam ter mais do que uma piscina.
Em relação ao atletismo, encontrar-se-ia uma solução semelhante à das piscinas. Talvez uma pista de 400 metros não seja possível, mas uma de menor dimensão. Aqui o problema é mais delicado porque não se encontram modos imediatos de gerar receitas. Mas de qualquer modo, as despesas de manutenção são menores, portanto também não há crise.
Criar estas infra-estruturas poderia ajudar a melhorar os nossos resultados desportivos num período médio de tempo, criaria mais alguns postos de trabalho, resolveria uma pequena parte do problema da delinquência juvenil (e isto dará um post num dia destes) e daria ainda um pequeno incentivo a todos os licenciados em Educação Física que não encontram colocação nas escolas.
Mas talvez quem ande aqui com ilusões sou eu e realmente construir aqueles dez “mamarrachos” tenha ajudado o país. Eu pelo menos senti-me muito melhor ao saber que aqueles gajos que ganham mais de 100000 Euros por mês também choram quando perdem um jogo decisivo. E assim resolvemos os nossos problemas no sistema de saúde, no sistema de educação e na segurança social.